Livro: A maternidade e o encontro com a própria sombra

Enfim, terminei de ler o livro “A maternidade e o encontro com a própria sombra”, de Laura Gutman. Essa foi uma sugestão de livro que peguei no blog Duas Linhas Paralelas, da linda Isis, mãe de Amelie. Eu simplesmente adorei o livro, a começar pela capa e contracapa – achei de uma sensibilidade e delicadeza sem fim. A divisão dos capítulos permite iniciarmos a leitura do assunto que mais nos interessa, ou seja, não precisa obrigatoriamente seguir a sequência do livro. Eu fui lendo aleatoriamente capítulo por capítulo e fazendo anotações, rabiscando, refletindo.

Laura Gutman é psicoterapeuta familiar e se especializou em temas sobre maternidade, lactância, relações familiares. Natural de Buenos Aires, foi lá que fundou e dirige o Crianza, uma instituição onde funciona uma escola de capacitação de profissionais, que desenvolve um trabalho voltado ao tratamento de crianças e casais, grupos de apoio à maternidade, seminários, acompanhamentos, terapias e debates. Pareceu-me um trabalho lindo.

Nesse livro, a autora aborda sua linha de pensamento pessoal e profissional sobre a realidade emocional das mulheres que se tornam mães e o mundo dos bebês. Ela compreende (e explica) como ninguém as transformações que passamos quando nos tornarmos mães. Sim, existe alguém no mundo que entende a mulher puérpera! De fato, não é um guia como a autora explica logo no prefácio, mas é um livro fácil e com indicações pertinentes.

Quando entramos no universo materno, entramos num campo desconhecido, cheio de grandes surpresas, alegrias, mas também repleto de dúvidas e inseguranças. Acho que o início da maternidade não é fácil para nenhuma mulher, os primeiros meses são complicados, nos sentimos sozinhas, não compreendemos nem os próprios sentimentos que são muito contraditórios e nos questionamos demais. E por isso é comum a mulher ter depressão pós parto. Eu tive (e poucos souberam disso). E acho que a maioria das mulheres sofre depressão pós parto, mas poucas assumem por dificuldade em falar do assunto. Confesso agora abertamente porque compreendi que é algo normal num momento tão transformador e difícil na vida da mulher. E porque acho que temos que falar cada vez mais do assunto, colocar pra fora nossos sentimentos, conversar com as pessoas, buscar ajuda. Isso fica para outro post.

Esse livro tem a intenção de fazer com que as mães entendam a avalanche de emoções que chegam com o bebê e saibam como superar esses sentimentos que vou chamar de negativos – que sabemos não fazer bem aos nossos filhos, que são parte nossa como um ser único (mãe e filho) por longos anos após o nascimento. É mais ou menos aquela história de que a mãe tem que estar bem emocionalmente para o filho também estar.

O livro aborda separação emocional, o parto, a depressão pós parto, a importância da amamentação, as necessidades básicas do bebê, a capacidade de compreensão que eles possuem, as doenças como manifestação da realidade da mãe, o direito que toda criança tem à verdade (sobre tudo), limites, comunicação, acordos, comportamentos familiares na hora de domir, na hora da alimentação, violência (ativa e passiva), o controle das necessidades fisiológicas, a diferença de papeis da mulher nos trabalhos comerciais e maternos, enfim, tem muito assunto, um capítulo inclusive dedicado aos pais.

Trata-se de um livro muito esclarecedor. Se tivesse lido ainda na gravidez, teria feito algumas coisas diferentes quando meu Ben nasceu. Mas vou fazer diferente daqui para frente. Passei entender, por exemplo, que não precisamos seguir regras. Exemplo 1: seu filho não vai ficar mal acostumado só porque hoje você decidiu ficar com ele no colo o dia todo, brincar, dedicar-lhe tempo de qualidade, isso é dar carinho, amor. Exemplo 2, não é porque o filho da amiga desfraldou aos 2 anos, que o seu precisa obrigatoriamente desfraldar também. E aqui vale colocar um trecho que achei elucido:

Cabe perguntar por que os adultos ficam tão ansiosos e se preocupam tanto com a conquista dessa habilidade, que, como acontece com outros aspectos do desenvolvimento normal das crianças, será alcançado na hora adequada, ou seja, quando a criança estiver madura. Não se aprende a controlar os esfíncteres por repetição, como acontece quando se trata de ler e escrever. A criança adquire o controle naturalmente, quando está pronta, assim como aprende a andar e a usar a linguagem verbal.”

Tudo tem seu tempo. E as coisas acontecem naturalmente quando devem acontecer. Eu adorei esse livro, como disse foi esclarecedor pra mim em vários aspectos, principalmente no que diz sobre o pós parto. Super indico.

Outros trechos do livro:

“As mulheres puérperas têm a sensação de enlouquecer, de perder todos os espaços de identificação ou de referência conhecidos; os ruídos são imensos, a vontade de chorar é constante, tudo é incômodo, acreditam ter perdido a capacidade intelectual, racional. Não estão em condições de tomar decisões a respeito da vida doméstica. Vivem como se estivessem fora do mundo; vivem, exatamente, dentro do “mundo-bebê”.”

“…São as primeiras a se surpreender ao reconhecer que o espaço do trabalho, das amizades e dos interesses pessoais, que até pouco dias atrás, consumiam suas energias, foi transformado em meras recordações abafadaspelo choro do bebê que as chama. Esta realidade as deixa assustadas e acreditando que nunca mais voltarão a ser mulher maravilha, ativa, encantadora, inteligente e elegante que construíram com muita dedicação.”

(e eu acho que depois da maternidade nos transformamos em tudo isso e muito mais)

“Se recordarmos que o leite materno não é apenas alimento, mas sobretudo, amor, comunicação, apoio, presença, abrigo, calor, palavra, sentido, acharemos absurdo negar o peito porque “não precisa”, “já comeu” ou “é manha”.”

(e eu ainda incluiria ou “porque dói”)

“Para nos aproximarmos do universo do bebê é necessário usar o conhecimento intuitivo”.

“Devemos compreender que a vida é conexão com outras pessoas”.

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1 comentário

  1. Gabis, fico muito feliz que uma indicação minha tenha lhe ajudado tanto. Esse livro foi maravilhoso para mim também. Tão esclarecedor e com informações tão reconfortantes! E foi por causa dele que decidi criar o grupo de e-mails: que tá meio parado, mas acho que no começo é assim mesmo!!!

    Um super beijo para você e seu Ben!=)

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